terça-feira, 26 de janeiro de 2010

meus sonhos, minhas mágoas, minha história... Pedaços de Vidas

Ao amor que nunca tive
(e que provavelmente, nunca terei).


Você é assim, de uma imensa beleza, de constelações de estrelas e luas e sóis a brilharem em teu sorriso. Você tem a sinceridade no olhar e dissipa todos meus pesadelos com os afagos de sua voz macia, confortante como o berço da vida. Você faz com que muitas coisas esquecidas tenham sentido. Você trás a paz no coração, és terna, sublime, cativante e tens o dom de perdoar o errante.
Eu tentei fazer parte do teu mundo, mas... Para isto, deveria ter nascido em outra casca, outra pele, outro pêlo – Deveria talvez que ser em outra época, outro tempo – Mais ainda... Deveria falar outras línguas, recitar outros versos, usar mais verbos – Deveria conhecer as cores, os sabores dos vinhos – Deveria saber da tenacidade, da esperança e confiar nos instintos – Deveria saber amar o amor que não cessa, que não cala, que não se esconde na cobardia - Devia amar o amor que arde como brasa de caldeira, que vive intensamente no labirinto do velho espelho da alma.
Já encontrei você na rua várias vezes, já te vi passeando na calçada, carregando pacotes (cheios de ingredientes do que mais tarde seria meu jantar) – Já esbarrei em você num bar (e o barulho fora do limite impediu que você pudesse ouvir-me gritar que te amava) – Quantas noites vaguei a sua procura e você se encontrava sempre presente (ao meu lado, mais propriamente dentro de mim... em meus sonhos).
Devo confessar... Fui um tolo ao acreditar que pudesse ter seu amor – Não que me sentisse desmerecedor, mas acontece que o universo insistiu em não conspirar a meu favor – Insistiu em negar-me à plenitude da vida – Aos poucos se definham os anseios e expectativas; murcham as roseiras do jardim de nossa pequena casa.
Certa vez imaginei nossos três filhos, teriam minhas suíças espessas, mas, herdariam a delicadeza de seu nariz – Dois deles seriam garotos parrudos e sorridentes, a menina companheira e serena (como você), chamar-se-ia Helena em homenagem a minha mãe.
Queria respirar contigo o doce ar da madrugada com perfume de grama molhada de orvalho – Queria colocar na rélica vitrola não o som “das paradas”, mas aquela balada romântica... Sim. Romântica. Por que você é assim – Ah... E com que graça danças, parece flutuar (e me leva junto).
Dia desses, te vi na tevê, num comercial (não lembro de que produto) – Senti ódio de não poder invadir a tela e abraçar-te, (pensamentos malucos, de amores malucos e impossíveis) poderia passar a eternidade abraçado a você.
Você tem defeitos, mas quem não os tem? Seria utópico demais desejar a perfeição (mesmo por que viveria num tédio sem fim... seria chato) – Agente nunca está satisfeito.
Eu te quero tanto... Eu te quero tão bem, que nenhuma palavra humana é digna de representar meu sentimento por você. Ao mesmo tempo em que me entristeço, fico feliz pois o amor que sinto é suficiente para alimentar-me, trazer-me a paz de espírito que necessito.
Meus olhos sorriem ao te ver, minhas pernas bambeiam numa dança esquisitíssima sem o menor compasso, meu coração bate forte e desritimado – Tudo isso para homenagear a tua presença.
Sabes... Sou teu há tempos, desde a idade mais tenra já nutria em mim esse desmedido afeto.
Nunca tive muita coisa para oferecer-te, na verdade... Meu coração “puro” sempre teve seu valor questionado.
O que talvez mais me encanta em ti, seja esse teu jeito de menina levada, essa vivacidade, esse bom humor constante e “solidário” (sempre dá risadas gostosas de minhas mal interpretadas piadas) – Você consegue ludibriar um dia carrancudo e cinzento... Consegue colher flores do asfalto escaldante.
Você é companheira (divide seu prato comigo) e se preciso for, atravessa dificuldades a meu lado. Nunca brigaremos por conta da falta de dinheiro (ao contrário, na crise você se supera e me fortalece com conselhos, compreensão e muito, muito carinho).
Almas gêmeas é coisa do passado! Somos uma só alma, dividida em dois corpos, alma esta, ansiosa para voltar a ser o que era – Voltar a voar sobre os campos de lírios e sobre as crostas de gelo das mais altas montanhas... Na partilha, uma das partes manteve o grandioso coração, mas perdeu suas asas.
Toda vez que estou perto do mar, sinto tua presença – Mergulho meu olhar onde a vida se confunde em dois tons de azuis, me entrego ao frescor das carícias da brisa vespertina desse imenso atlântico sul e quando as pálpebras se fecham feito velhas cortinas, tudo magenta – Encho os pulmões do mais delicioso veneno (meu cigarro entre os dedos queima sem pressa, como incenso de um templo budista) – Estou perto de você por que estou perto de mim.
Incompleta... É assim que defino a vida que vou suportando... Convivendo com tua ausência – Saudade? Tenho muita sim... Mas como ter saudade de alguém que você sabe que existe, mas ainda não conheceu? É sem dúvida um sentimento no mínimo extranho.
Na falta de tua boca, já beijei outras bocas... De muitos sabores e ardores, já naveguei em deslumbrantes corpos e ouvi gemidos engraçados, acolhi seios maduros nas palmas de minhas mãos, ofeguei, sussurrei palavras safadas de baixo calão ao pé de ouvidos de mulheres não menos safadas... Nenhuma delas, por mais inflamada de paixão carregava consigo a doçura que tens – Nenhuma tinha o toque de veludo com perfume de frutas frescas – Nenhuma tinha a essência viva do amor reluzindo na íris.
Eu aprendi com o passar dos anos a não me lamentar – Aprendi a pedir menos e a agradecer mais – Aprendi a duras penas com muitas “falsas metades” que a verdadeira metade não existe, o que existe é uma enorme carência nos corações humanos – O que realmente é palpável é essa tristeza antiga no olhar, essa reticência quando se projeta o futuro...
Eu também aprendi a viver sem esperar que algo de fantástico aconteça – Calo-me diante ao caos e assisto tudo passar como num filme surrealista – Ancoro minha percepção e espero a tempestade passar.
Às vezes a vida me arde, dá um nó no peito que nem o seu amor pode consolar. Sinto a dor do mundo que consigo suportar – Pago o preço justo que posso pagar.
Se você entrasse por essa porta agora eu não saberia o que te dizer, seria mais provável (pelo pouco que me conheço) que ficaria estático... Passivo diante de tudo que esperei e pedi a vida inteira para o bondoso Deus – Ficaria admirando sua face, seu sorriso e embreagaria-me com seu cheiro – A alegria invadiria de tal forma meu esfarrapado coração que... Se tivesse coragem, diria um engasgado: _Bom dia! – Ao mesmo tempo em que internamente gritaria: _Eu te amo tanto... Não vá embora ... Nunca mais saia de perto de mim... (não sairia de seu lado nem quando você fosse ao banheiro feminino)... Eta grude danado... (isso foi uma piada, por favor ria...).
Perdoe-me se não te encontrar nessa vida – Resta-me a esperança de que possamos nos unir em um outro momento. Só te rogo para que não se esqueça do meu amor por você – Não se esqueça do por do sol da ilha irlandesa, nem das perseverantes investidas das ondas sobre a encosta de mármore – Tão pouco... Não deixe que caia no esquecimento a música divina dos ventos celestes e o aroma do mediterrâneo... Leve consigo não minha pobre imagem (desgastada, surrada e oprimida), mas sim meu beijo de flor campestre em tua testa... Leve também um beijo em teu sorriso... Leve a sinceridade de minhas palavras e ações... Leve meu coração para que eu possa reivindica-lo depois.
Se eu a tivesse em meus braços poderia provar do elixir da vida eterna e viver perpetuamente (mesmo que por instantes). Eu dedicaria cada intenção do meu espírito e afastaria todos os meus fantasmas... Jogaria na lata de lixo todo o mau do universo.
Desejo-te toda a riqueza do mundo, embora saiba que em sua humilde clareza o ouro e a prata atuem apenas “discretamente” como simples figurantes, coadjuvantes de tua beleza.
Eu não... Não sou como você, não tenho tais traços, não me vejo atraente “Narciso” – Sou tosco, reles, baldio – Sou insignificantemente “normal” como homem... Tenho os pés descalços no lamaçal das futilidades e vaidades vãs e infiéis a natureza. Não me assusto ao ver minha imagem refletida na poça da incompreensão... Por que deveria? Se afinal somos todos incondicionalmente – Futura grama. Você me mostrou que a mais importante das belezas é aquela que não se pode ver, tocar, violar nem roubar – Apenas pode-se admirar e... Se merecedor for, compartilhar. Você conseguiu enxergar em mim essa beleza – Trouxe-me alento e me deu de presente seu abraço. Também por isso te amo.
Ah... Essa vida e suas traquinagens... Jogando contra o destino uma infinita partida de xadrez – Movimentam as pesas e nossos caminhos a seu bel prazer, mas ainda existe a possibilidade de um dos dois cometerem um engano e facilitar uma fuga... Eu daria minha vida para isso acontecer, é o que me resta... A minha vida, o suspiro débil de minhas palavras.
Mesmo que eu viva o resto dos meus dias longe do mel da tua boca, ainda assim conservarei o sabor doce do único beijo que não me destes – Ainda faria castelos nas nuvens e plantaria as sementes de papoulas em vez de servi-las, salpicadas no prato de salada... Teria na minha trilha a alegria melancólica da música celta... Teria um relógio de sol no pulso esquerdo e o tempo como alforje... Teria minha inocência embalsamada, para que a criança viva em mim o tempo que eu viver assim – Sem você. Como um imponente rio em direção ao mar... Um rio que só é rio, diante da imensidão azul e salgada. Ele morre ao toca-la, todavia renasce ao entregar-se e descobre que afinal de contas, não havia nenhuma vantagem em ser um rio.
Eu pensei em pegar o telefone e... A esmo digitar alguns algarismos e esperar que você atendesse, mas eu não teria tal sorte! Se por acaso você estivesse do outro lado da linha, eu não saberia o que dizer-te – Travaria! Só teria o prazer de ouvir tua voz – Guardaria eternamente o timbre “acalanto” das poucas sílabas que me diria.
Envelheceria prazerosamente junto a você... Beijaria-lhe as rugas de teu rosto com a ternura de sempre... Com o entusiasmo de sempre... Com o amor revigorado.
Amanhã posso falar de outras histórias, outras esquinas, mas talvez não serei tão sincero quanto agora... Talvez não sinta tanto a necessidade de ser transparente comigo mesmo e com o mundo... Talvez já tenha encontrado você.









Marcelo Reis, outono de 2001.












Boa noite querida


Sempre olhei você com os olhos do amor latente, com uma pureza de boas intenções que resplandece em minha alma a cada riso teu, como se fosse possível beber da água fresca da fonte da vida...

Simplesmente aconteceu! Não sei explicar... Aconteceu que em meu peito um aperto diferente, um compasso ritmado ao som de um raio de luz ardente moveu meu pensamento até você. Desde essa conjunção astral de rara simetria eu não pertenço mais a mim... Doei-me como quem doa a própria vida, como quem espera a honra e glória de ser um herói.

Entreguei-me a ti sim... De maneira incalculada, mergulhei no furor da paixão, no devaneio etílico dos sentidos, no êxtase para viver a pequena morte, para dividir-me entre um anjo no paraíso e um ser mortal...

Todos os caminhos da minha estrada levam a você, cada passo que dou contra o vento a rasgar-me a face é na direção do teu espírito... Luto contra meu destino obstinadamente, travo uma peleja árdua, meu carma? Talvez... Talvez seja apenas o véu de todos os tempos que cobre tudo... Todas as insuportáveis dores são esquecidas.

Haja o que houver, estarei aqui... Aqui! Bem aqui de seu lado, no frio da madrugada para aquecer-te... Para velar teu tênue sono... Para dar-lhe um doce beijo. Você, só pelo fato de existir faz a minha vida ter um sentido especial, é importante ter um objetivo, algo em que se agarrar... Eu me agarro a esse sentimento de unhas e dentes, como se fosse esse amor que sinto tão vital quanto o ar que respiro... Eu gostaria de ter o seu desprendimento, a sua segurança e auto-suficiência, gostaria de não sofrer tanto a cada vez que você me manda embora... Eu sou cativo concedente desse amor.

Se um dia eu disser adeus, será apenas mecânico movimento dos lábios, será por que fui impulsionado por sentimentos menores ao amor que insisto nutrir por ti e se além de dizer adeus eu efetivamente sair de tua casa... Será apenas para mais tarde, algo entre um ou dois dias, retornar para entre prantos, pedir-lhe perdão por todas as ofensas que fiz a ti...

Meu cálice está ficando vazio... Aos poucos o fluído juvenil esvaísse dessa massa desgovernada que m’alma perseverante insiste em carregar. Sinto-me por muitas vezes a beira do esgotamento, cansado e triste com a direção da nossa história... Era para haver flores no caminho, ao menos foi assim que eu em minha inocência concebi esse desejo... Sonhava em ter uma vida feliz e você minha cara, seria o pilar de toda essa felicidade... Ainda é! Ainda acredito que toda essa turbulência um dia passe e para a minha alegria reste algo para recomeçarmos...

Eu em meu silencioso desespero clamava por tua presença, sempre esperei por ti, mesmo quanto enfeitiçado por outros amores tinha um “que” de saudade, sentia uma falta de abraçar-te... Parece estranho eu sei, mas era assim que me sentia...
Você minha querida, apareceu em minha vida na hora que mais necessitava de alguém que verdadeiramente pudesse responder-me a frase: “Eu te amo”. Com um: “Eu te amo também”.

Eu gostaria de fazer-te a mais bela das declarações de amor, gostaria de presenteá-la com o azul do céu, com o brilho das estrelas, com a refrescancia das águas do mar e se minha fosse a lua, sua também seria... Mas o que eu tenho para oferecer-te? Nada de concreto, nada palpável... Só palavras e sentimentos, os melhores sentimentos do mundo! Tenho também guardado em meu baú vida, um estoque de esperança nada modesto, essa esperança toda funciona como um combustível que me impulsiona por essa estrada esburacada do meu destino... É o que tenho para dar-te, minha alma incandescente de carinho por ti.

Na minha infância todos os anjos protegiam-me dos males do mundo, eu só vivia a fantasia e a beleza de ser criança, até hoje não me acostumei com a forma dura e crua com que tudo se desenvolve... Problemas demais, dúvidas demais, crises demais, dor demais... As alegrias ficam como alentos, como sublimes e necessários suspiros, pausas para respirar. Tu és o acalanto noturno que envolve o espírito e transforma tudo em uma ternura perpetuamente passageira... Talvez você não consiga entender a amplitude de meu sentimento... Não a culpo, pois até eu mesmo às vezes peno para entender-me. Sou inconstante por natureza, tosco e espero demais das pessoas, deposito a minha felicidade em mãos que não são as minhas, por isso sofro... Mas se tenho a tua presença, sofro feliz.

Todos os dias cinzas que tive, foram coloridos com a tua alegria... Você trouxe vários sóis às noites tristes e frias por onde vagava este meu corpo cansado e perdido. Você trouxe a luz consigo e me deu de presente um pedaço de mim que eu sinceramente, não sabia que existia... Eu te agradeço por isso, te agradeço.

Vou beijar-te a testa com todo o carinho do mundo... Vou esquecer as minhas mágoas e se Deus permitir, espero poder dormir. Quem sabe amanhã será mesmo outro dia...
_Boa noite querida. (Sussurrei no teu ouvido)...





Marcelo Reis, inverno 2002.

Eu, o peregrino errante...


Hei você!... Por que não desabrocha para o amor mesmo não sendo primavera?
Por que não me da a tenção mesmo sabendo que te quero tão bem?
Perturba-te a idéia de ter alguém que por ti é só ternura, só carinho e bem querer?

O nada é pior do que ter tido (ao menos) uma sincera troca de olhar. Prefiro chorar a tua recusa ao viver teu descaso... Ignoras meus mais puros sentimentos e retribui a mim com tal desprezo... Meu coração é deserto sem teu sorriso, o tormento visita-me nas noites que consigo dormir...

Apieda-te de mim mundo injusto que recompensas-te minhas boas intenções com essa cruel e gélida solidão... Já é bastante pra mim esse manto noturno que cega-me a razão...

Sou um incorrigível romântico, um neotrovador argüido e condenado por amar... No meu tempo os amores nasciam de olhares encabulados, ouvia-se serenatas aos pés de janelas e uma deliciosa fragrância de desejos misturava-se ao ar...

Bem sei que não tens o mesmo modo de enxergar como eu a vida... Não te arde os olhos se você lesse o soneto do caolho poeta, nem apertaria em teu peito o coração ao ouvirdes o melancólico som das notas do cravo barroco em Viena...

No tempo em que vives meu sublime amor, existem outras maneiras, outros modos de fugir da realidade... Mas como posso dizer que te amo? Como expressar esse colossal furacão de paixão que atacou meus sentidos... A caso não te apetece meus sentimentos?

Vagueio, estou perdido e sofro por não ter teu amor...
Minha gentil senhora por quem bate meu tosco coração, faz-me acreditar que amar é em vão. Sinto que morre dentro de mim a cada desprezo teu o meu sonho de Orfeu que nunca retornará de Hades... Minha esperança de criança e meu desejo por ti são minha dor maior.

Ouvi-de! Brada dolorosamente a minha alma, suplicando de ti o teu amor. Esse amor que desejo conquistar com o pouco que sou... Não sou muito, mas sou teu.

Sabias que em mim havia este peregrino baldio? Este perseverante explorador dos sentidos? Esse aprendiz da vida que traz na mala mágoas, mas também muitas alegrias?
Eu também não sabia... Não fazia idéia de até onde meu coração poderia amar...
Descobri todas estas coisas depois de ter cruzado o teu caminho.

Meu único alento resume-se na frase que certa vez ouvi de um sofredor como eu, ele disse:
_Nada é para sempre, nem a dor, nem o amor!
Sei da minha efemeridade corpórea... A única certeza que tenho é a que um dia as cortinas serão fechadas e o espetáculo do meu tempo haverá se encerrado... Nunca mais meus pés pisarão no palco da Ibérica península e nem meus olhos passearão sobre o horizonte azul das praias do Algarve... Aplausos? Não sei se os ouvirei... Saudades? Se não despertar sobre meus contemporâneos ao menos esse sentimento, de nada valeram meus passos.

Afinal amor meu, o que é estar vivo? Qual o propósito dessa psique que anima a massa física? Seremos todos nós potes de variadas cerâmicas e de conteúdo mais variado ainda?
Quantas perguntas ainda estão sem resposta, mesmo com toda a evolução da cultura humana, mesmo com a vinda a esse plano de seres iluminados não conseguimos descobrir “o por que” de nossa existência... Assim também sou eu, o peregrino errante que caminha na trilha da incerteza, que busca a resposta para minha presença nesse mundo através de você... Chegar a teu coração e fazer morada eterna nesse campo fértil de felicidade.

Sofro a paixão, sofro por amar, assim deixo de ser reles mortal para tormar-me o que já devo ter sido, um pedaço de Deus... Estou feliz, antes não era. Você esta em meu coração e eu estarei no seu... Meu sorriso é um desabafo desesperado, meu otimismo é minha perdição.

Meu sabre partiu-se ao meio nessa minha última batalha... Fiquei ferido, vi tudo de modo distorcido, perdi boa parte do senso de direção... Cambaleando segui por entre a multidão, eram tantos os rostos de expressão espantada, gente que nunca vi estendeu as mãos para mim, o rascunho, o farrapo... Tive sede... Muita sede! Tive medo também. Senti ódio de mim e do mundo... Não consegui ver aparente motivo para minha derrota... Bebi até a derradeira gota da amarga seiva da vida... Mergulhei meu espírito no abismo da escuridão... Lá fiquei, lá purifiquei minha alma... Quando a esperança já não mais fazia parte de mim, um anjo de assas douradas e face reluzente apareceu, tomou-me de assalto e maravilhosamente me devolveu todos os meus sonhos. Este anjo de repente não sei por que, desapareceu!

Essa vida amor meu, é assim... Feito um cigarro que queima lentamente, a fumaça sobe, são nossos sonhos indo embora pelo ar... O pigarro são as mágoas e as desilusões, são os dissabores impossíveis de serem evitados... Mas há esse prazer em viver que ninguém, que nada consegue nos tirar... O prazer que é fugaz, que faz um segundo de alegria valer uma vida inteira.

Minha alma foi roubada de mim assim que na tua íris minha imagem foi refletida... Sabes... Mais nada tenho nessa vida além de ti. Meu amor é indelével como o brilho da vésper estrela...

Não penses que já não tentei projetar amores, infelizmente para mim a matemática do amor é errônea, consegui apenas amenizar minha solidão... Fui um tolo, como tolo permaneço por acreditar nesse infrutífero amor... Nunca na vida encontrei alguém que me fizesse sentir o que você faz (sem mover se quer um músculo)... Você amor da minha vida, é a grande diferença entre o que é certo e errado! Você é a maior esperança de que a minha vida não tenha sido apenas, um sopro do ser divino... Você é a certeza de que não sou tão pequeno quanto eu acho que sou!

Anjo meu, não tenho forças para resistir aos encantos teus... Conquistaste-me! Não sei se foi pela carência que atormentava-me, não sei se pela minha imaturidade, só sei que você apareceu na minha vida como um bálsamo, como algo que transforma o diamante bruto em jóia preciosa, e com que valor guardo o teu sorriso, se possível fosse, guardaria-o em vasilhame seguro e com lacre de larga segurança... Meu universo gira em torno de ti, diva minha.

Eu deixo que lágrimas felizes deslizem por meu rosto, sonho um futuro que é realidade em meu coração... Nunca vou te cobrar por não estar em meus momentos mais importantes. Nossa história pode permanecer encubada somente dentro de mim...

Se dons divinos eu tivesse, moldaria tua figura no barro fresco, por que de barro foi feito o homem... Obteria a forma que receberia a liga dos mais raros metais... Eu teria tua imagem desnuda para em minhas fantasias poder tocar a tua beleza...

A vida trata cada um da maneira que for conveniente para ela... A fortuna já me sorriu algumas vezes, mas eu estava distraído... Estava seguro que iria encontrar a paz...

Nunca tive o paraíso em minhas mãos, nunca tive um sinal obvio da sobrenaturalidade. Meu passado viveu demais, minhas pernas dobraram-se diante do peso do tempo e o que restou foram apenas recordações...

Ouvi meu coração! Ele já não tem forças para gritar teu nome, ele já não sabe se vive ou se morre de amor por ti... Eu piso nas pedras ásperas e equilibro-me para não mergulhar nas águas frias e tristes do seu esquecimento... Caminho sobre o escaldante sol das terras galegas com a perseverança como companheira e vou... Vou passo a passo em direção ao teu amor... Chegarei a algum lugar dentro de ti... Mesmo que esse lugar não sirva para minha eterna morada... Você jamais esquecerá de mim.


Marcelo Reis, inverno 2002.













O lavrador de ilusões


Eu não pedi licença para entrar na tua vida... De repente, me vi embriagado por tua imagem pairando em minha mente, a todo tempo tinha visões do lindo sorriso que ilumina a tua face... Fascinei-me sim! Deixei que o desejo me levasse por caminhos tortos e me perdi na tua nuca procurando o calor que precisava para ter certeza que ainda meu coração pudesse bater...

É raro encontrar franqueza e bondade nas pessoas, encontrei em ti... Uma franqueza de amiga e uma boca de mulher... Uma bondade de mãe e um olhar de amante. Esse teu jeito prendeu-me de uma forma que por algum tempo acreditei que não seria capaz de viver sem você...

Pareceu um vendável de emoções, uma doce loucura que transformou minha vida... Você não notou que depois de eu ter te encontrado, meu passado que ardia-me a alma deixou de existir? Eu sofria por crer em amores eternos, morri cedo em meus projetos, vivi tudo que tinha para viver. Tornei-me um escravo da rotina e privei-me de ser feliz tantas vezes que me perderia nas contas... Na verdade, nunca fui digno de receber o teu carinho, eu só poderia ofertar-lhe uma vida insatisfeita e cheia de problemas que criei para mim...

Por que você não apareceu antes? Por que demorou a minha vida inteira para aparecer? Hoje não mereço-te, hoje não! Encarcerei-me a uma história que é minha, que precisa de mim para ser corretamente escrita, há tempos não pertenço-me...

Vou procurar você no noturno céu, escolherei a estrela mais brilhante para batiza-la com o teu nome e poder em segredo venerar todo o teu brilho e esse carinho que nasceu em mim por ti não será esquecido... Como jamais esquecerei do morno e tênue beijo que você me deu... Quando as rugas forem predominantes em meu rosto ainda rangerei os dentes ao me lembrar dos lábios mais doces que minha boca provou... Poderia chamar-te de amor da minha vida, poderia entregar meu corpo e meus sonhos, minhas incertezas e alegrias para que você as depositasse em teu lindo coração de anjo e entregaria também a liberdade inútil que tanta tristeza trouxe para o meu espírito...

Sem ti viverei uma solidão de pessoas a me cercarem, vivei a história que tenho o dever de escrever com meu sangue... Viverei sem o teu sorriso meu anjo... Viverei sem a alegria das tuas palavras... Viverei, pois será preciso prosseguir essa viagem, mesmo que com essa cratera que a falta de ti provocou... Dizei-me... Onde encontrar em mim força para fingir que nada aconteceu? Como escapar da deliciosa lembrança do teu abraço que confortou meu corpo cansado... Deus! Deus... Apieda-te de mim... Encontrei a felicidade e estarei sempre com ela na saudade, levarei no couro a marca dessa mulher de admirável valor que nunca me pediu nada e me deu tanto, nunca poderei pagar...

Nunca poderei retribuir o bem que me fizeste, nunca poderei dar-te a esperança e sabedoria que você tão generosamente ofertou a mim...
Eu preciso te pedir perdão... Perdão do fundo do meu coração... Não tinha o direito de invadir teu mundo a procura de aventura como uma ave carniceira para rapinar de ti tua beleza e delícia de mulher madura... Estava empobrecido em meu caráter, fraco em minhas convicções e por isso procurei você... Achei que pudesse refrescar minha angustia e solidão em tua fonte de águas cristalinas. Enganei-me, pois o que encontrei foi uma criatura merecedora de todo o carinho que um homem pode dar...

Não sei quanto a você, mas em minha vida nada tão sublime aconteceu, essa avalanche de sensações magnas... Esse cheiro de pecado que tomava conta da atmosfera... Esse inesquecível sorriso e esse jeito que conquistou meu coração...

Agora querida, estou com um vazio imenso dentro do meu peito, sinto tua falta sim... Nada posso fazer... Sei que preciso esquecer você, mas não consigo dizer-te adeus, não consigo!
Já era para eu estar acostumado com esse tipo de perda, a minha vida em grande parte foi dividida por momentos onde tive que aceitar a falta de alguém querido para mim...

Você estará sempre em meus pensamentos... Fez meu chão de nuvens, fez as estrelas despencarem do céu como lágrimas sinceras e tocou minha face com a maciez que só um anjo poderia ter... Muita coisa mudou dentro de mim, sinto-me diferente... Sofro calado... A vida maguou-me, com uma armadilha arremessou minha consciência para longe do meu coração.

Não poderia ser diferente, tinha que ser primavera... O inicio de um ciclo... Fui provido do necessário... Semeei ao longo de minha vida boas sementes, algumas não vingaram... Precisei sufocar dentro da minha alma muitas coisas... A semente que plantei em ti morreu sem florescer... Vou me conformar com a minha vida do jeito que ela esta, afinal, existem coisas que não podem ser mudadas mesmo que se queira... Então por que o destino resolveu enfeitar meu caminho com a sua presença, não consigo enxergar um propósito claro para isso, apenas mais sofrimento aos meus sentidos, apenas mais duvida sobre meus objetivos e uma certa desesperança que queima minhas entranhas, reduzindo tudo que parecia certo em confusão e ofuscando o brilho dos meus olhos para a vida...

Queria a liberdade de poder viver a minha vida do jeito que eu quisesse... Pular do ninho... Quebrar a asa e sair bambeando o meu caminho, sem rumo talvez, sem certezas, mas seguiria o caminho que eu determinasse como diz a antiga idéia do “livre arbítrio”. Sinto-me preso a uma sela que eu próprio construí para mim. Impossível a fuga... Melhor esquecer você liberdade!

Eu tenho um pomar lindo no campo... Não mereço um jardim, poderia matar sua beleza com minha falta de cuidado... Quando viesse o frio, as chuvas e as pragas, eu estaria tratando dos meus frutos... O lavrador seria um jardineiro triste.








Marcelo Reis, primavera 2002.












































*** Você me trouxe o sol ***

Como é possível haver em mim tanto amor? Não fazia idéia de como meu coração poderia expandir-se e com tamanha rapidez... Assim que meu olhar pousou ávido sobre a tua figura, já senti algo queimando em meu peito... Algo diferente de tudo que já havia sentido, de uma pungente e esplendorosa força... Um milagre!!! Um lindo milagre de Deus que invadiu meu espírito e transformou a minha vida... Agora que tenho você junto de mim, tenho um motivo pra prosseguir. Eu tenho tanta esperança agora. Eu tenho coragem pra conquistar, pra vencer...

Pela primeira vez na vida, chorei de alegria... Não acreditava que fosse possível, mas eu senti uma alegria tão grande em m’alma que chorei, chorei ao verte... Chorei comovido com a imensidão do sentimento que brotara em meu coração... Cristalino, tão puro e verdadeiro... Precioso quanto a minha própria existência... Nunca pedistes que eu sentisse esse amor por ti, nunca cobraste nada de mim... Nunca deixarei que sintas em mim alguma distância, nunca permitirei que olhes para o passado e sinta que não estive presente em teu caminho... Estarei sempre por perto, pronto para ampara-la e guardar a tua paz...

Você me trouxe o sol, trouxe a luz para a minha vida... Não sabia que vivia em certa treva... Agora, cada passo meu é iluminado por tua presença... Você me trouxe um céu azul, limpo... Trouxe um dia claro para que eu vivesse verdadeira alegria...

Quando nasceste, nasci (novamente) junto a ti... Gosto de verte, contemplo-a em todos as oportunidades... Sinto que a felicidade finalmente contemplou-me, com a tua chegada minha estrada ganhou um sentido único... Hoje sou feliz! Hoje sei que o propósito da minha existência sempre existiu e eu estava com os olhos vendados para a magnitude da vida... Esse círculo onde tudo renovasse a todo instante, onde tudo passa rápido demais!

Tua fragilidade, tua delicadeza e essa paz que guardas no espírito faz com que eu encontre uma excepcional responsabilidade em meu caráter... Seria capaz de qualquer coisa ao meu alcance para proteger-te meu pequeno anjo.

Nunca imaginei que pudesse haver em mim espaço para esse sentimento impar, essa dedicação total, esse prazer real e sólido de doar-se desprendidamente... Você expandiu meu coração, você iluminou a noite que era a minha vida antes de te conhecer...

Desejo-te tanta alegria! Desejo-te tantas virtudes... Confio em Deus. Deposito nele todas as minhas esperanças em que você se torne uma mulher forte e de bons pensamentos...

Amo-te filha... Disse o pai babão...

Minha bebêzinha Gabrielly (3meses) brincando com a fadinha.
Meu anjinho com 02 aninhos.

Marcelo Reis, primavera 2002.
O baú “tempo”

Você lembra de um tempo onde os problemas não existiam e sua única preocupação era passar de ano letivo para poder ir à praia nas férias?

Pois bem... Vou te ajudar a se lembrar...

O tempo passou rápido demais e quando você parou para pensar, se deu conta que não era mais criança...
Problemas demais para administrar. (Os teus problemas sempre foram maiores e mais urgentes que os problemas dos outros).

Você tem duvidas demais, as vezes você se sente perdido, sem saber qual o rumo que deve seguir...
Surgiram muitos medos, o que mais te afligiu foi o medo de que as pessoas não te aceitassem do jeito que você era...

Você adquiriu vícios, tudo porque de certa forma, queria escapar da angustia e da tristeza de sentir-se só, tudo isso aconteceu quando você mais precisou das pessoas que mais amou na vida...

Você se lembra da alegria que era correr no intervalo do colégio... Lembra como você se sentia quase um super herói?

Você acreditava que podia fazer qualquer coisa, até voar era possível...

Você era sincero, honesto e não pedia nada em troca pelo seu amor...

Você aceitava o muito ou o pouco que te davam com a mesma naturalidade...

Você precisava do amor de seu pai e de sua mãe, mas nunca, em hipótese alguma imaginaria que um dia eles não estariam junto de você...

Você não sabia o que era o sexo, mas já tinha idéia de que era algo muito bom...

A tua inocência te protegia de tudo que era ruim. Teus olhos enxergavam as coisas com pureza e qualquer desenho na tv ou historia contada antes de dormir eram suficientes para distrair tua atenção...

Você chorava por algum motivo, mas logo estava bem de novo. Nunca guardava magoa, nunca se arrependia e nunca deixava de dizer o que sentia...

É... O tempo passou rápido demais para que você notasse que aquela criatura linda estava se apagando dentro de você...

Lembra como você era feliz?
Lembra como o teu sorriso era sincero e como você sem querer era cheio de esperança...

Lembra daquela alegria verdadeira que era estar com a tua família em um domingo na casa de tua avó e você se lambusava de molho de tomate...

Você lembra do medo que sentiu quando seu pai e sua mãe tiveram aquela briga feia e você não sabia para qual dos dois lados você pedia para parar?

Hoje você é igual a eles, hoje você faz as mesmas coisas e tem os mesmos medos que eles tinham, deseja as mesmas coisas para os seus filhos e sofre da mesma forma que eles sofreram...

Abra o baú “tempo” e resgate tudo aquilo que ficou esquecido... Resgate o que realmente te fazia feliz...

Se as pessoas não endurecessem com o passar dos anos, poderiam viver sem medo...

Sem medo de serem elas mesmas...
Sem medo de arriscar...
Sem medo de compreender...
Sem medo de perdoar...
Sem medo de errar e principalmente...
Sem medo de amar a todos e a tudo o que as pertence.

Você cresceu sim, mas isso não significa que você está pronto ou mesmo que é dono de toda a verdade...

Você é o que é, exatamente por que viveu esse tempo onde a fantasia era a realidade que você queria acreditar.

Hoje você da muito valor ao dinheiro, 50% dos teus problemas vem da falta dele... Os outros 50%, você acaba arranjando por conta de envolvimentos amorosos que naturalmente, trazem problemas...

Você trocou o doce dos deliciosos bolos que sua mãe fazia, pelo amargo da cerveja gelada no balcão do bar...

Trocou as brincadeiras na rua com seus amigos, por um computador com acesso à internet...

Trocou aquela bicicleta que tanto adorava, por um carro que todo mês, leva boa parte de seu salário...

Que vantagem você levou em ter crescido? Não estou dizendo que é errado ter ambições, viver experiências novas ou aprender com os erros que cometemos, afinal, tudo isso contribui para nossa evolução...

O que é lamentável é fecharmos os olhos para o tesouro que foi nosso passado... É triste saber que com o passar do tempo você aos poucos foi deixando de lado a beleza da simplicidade...

Você era o futuro, na verdade, ainda é, mas que futuro você se tornou?

Será que você está satisfeito com o resultado que chegou a sua vida?

Não importa a idade que você tem atualmente, essa criança ainda vive dentro de você e quer te fazer sorrir...

Deixe-a viver livre dentro de você...

Espero que agora você possa se lembrar.



Marcelo Reis, primavera 2003.











Janela aberta


Uma criança jamais esquece o carinho que foi lhe dado... Principalmente quando este carinho emanou do seio do lar, do pai, da mãe...
Quantas não são as pessoas que por falta deste carinho crescem perdidas, revoltadas, mal resolvidas em seus sentimentos?
Eu tive este privilégio, eu fui bem cuidado, bem criado, bem querido por meus pais, mesmo com toda a dificuldade que a vida impões a eles, souberam lutar para garantir que eu me tornasse alguém e toda a recompensa que eles pediram a Deus foi apenas que eu fosse um homem de bem, um homem de bom coração...
Lições valorosas, conselhos importantes que eles me deram, abriram meus olhos para as maldades do mundo. Ah se não fossem eles... Aí de mim.
Como sou grato, como agradeço essa rica presença em minha vida. Meus pais, meus tesouros, minhas luzes...

Mesmo tido passado da barreira dos trinta anos, homem feito e repleto de responsabilidades de pequeno empresário, minha mão sempre liga no meu celular, se está para chover ela liga pra dizer que eu tome cuidado na estrada, se é sexta-feira ao cair da tarde, ela liga pra pedir que eu não beba muito... Ela sempre diz com um orgulho nos lábios que para ela, serei sempre o seu bebê... Coisa de mãe mesmo!

Dia destes estava a caminho de uma reunião com um cliente e ele me ligou, imaginei que fosse mais uma recomendação ou uma bronca de leve por que eu não fui vê-la no domingo, cheia de cuidado, ela me deu a notícia de que meu pai estava mau... Perguntei a ela do que se tratava e ela me respondeu que meu querido velho havia sofrido um enfarte...

Que desespero! Tive que encostar o carro, não consegui pensar em muita coisa naquele momento... Perguntei como e onde ele estava e minha mãe disse que ele estava no hospital do centro da cidade e que ele estava inconsciente, respirando por aparelho...

Em toda a minha vida nunca senti tanto medo de perder alguém... Meu pai, meu coroa (ele não gosta que o chame assim)... Meu maior amigo nesta vida, poderia ir embora e eu precisava dizer a ele o quanto o amava e o quanto ele é importante para mim.

Depois de desligar o telefone celular e respirar fundo com a cabeça repousando no volante do meu carro, segui o destino do hospital, chegando lá, dirigi-me a recepção com milhões de pensamentos a rondar minha cabeça, estava nervoso, preocupado, querendo informações sobre meu pai, não consegui coordenar direito meus pensamentos e palavras que saiam de minha boca, tremia as pernas, as mãos suavam frio... _Qual o nome do paciente senhor? Perguntava a recepcionista com um ar de solidariedade. Antes que eu pudesse responder, vi minha mãe vindo em minha direção, apesar da idade e de vários problemas de saúde, ela deu uma pequena corrida em minha direção, me abraçou e chorou muito, eu que deveria dar forças para ela, fui vencido pela dor e emoção e comovido, chorei, chorei junto de minha mãe, chorei como aquele menino que ela acreditava que eu ainda era, chorei de medo de perder o meu maior amigo, meu espelho, meu guia...

Após uma semana de muita preocupação, fervorosas orações e muita atenção médica, meu pai saiu dos aparelhos, a primeira coisa que eu fiz foi chamá-lo de “coroa”, ele deu um sorriso com muito esforço e mostrou os dentões amarelados pelo cigarro, com o olhar cansado e piscando muito, parecia buscar a minha face, eu acariciei-lhe a grande testa e beijei-a com o maior carinho que meu coração poderia permitir...

Meu pai voltou para casa, está sob cuidado médico, fazendo dieta e repousando muito... Toda vez que meu celular toca eu tenho um calafrio. Pergunto-me... _Será que é agora?

Um amigo meu disse-me que nossas almas são como passarinhos presos em uma gaiola, em uma sala muito linda, com um gato preto faminto à espreita e uma janela enorme aberta bem próxima da gaiola, do lado de fora, uma tarde de sol de maio, uma brisa deliciosamente refrescante e um pomar carregado de vários tipos de frutas... Deus, às vezes abre a portinhola da gaiola...

Esse amigo ainda me perguntou: _Você acha isso ruim?




Marcelo Reis, primavera de 2004.

Dedico este texto ao novo (que parece velho) amigo Xinna, que em uma conversa me contou o quanto seus pais são importantes para ele. Infelizmente este sentimento de gratidão e consideração por parte dos filhos esta cada vez mais difícil de se ver nos dias de hoje. Deus conserve teu bom coração amigo.









Os caminhos da Felicidade São tantos os caminhos, são tantas as barreiras, somos tantos e tão distintos, somos únicos universos, vencedores desde o ventre de nossas mães até o crepúsculo de nossas existências. Buscamos a eternidade mesmo sabendo que somos efêmeros, buscamos a perfeição mesmo sabendo que sem “erro” não somos humanos. Como um ser tão incoerente, conflitante e inseguro ainda ousa sonhar com o que chamamos de FELICIDADE? Quem conhece a paz, antes viveu a guerra... Só se sabe a luz quem antes viveu a treva. A FELICIDADE é como tudo em nossa jornada, um enorme aprendizado!Os caminhos da FELICIDADE são infinitos, eles escondem-se em muitos momentos de nossas vidas e como tudo que é bom, a FELICIDADE é simples. Embora seja prazeroso o estado de FELICIDADE, não se deve confundir, prazer com FELICIDADE. O prazer é fugaz e pode trazer consigo o sofrimento, já a FELICIDADE é sólida, real e quando se conquista ela é sua, fica marcada a ferro e fogo no teu espírito! Ninguém entenderia o teu sorriso, a tua gargalhada sincera quando no meio da batalha a tua alma incandescente de perseverança derrubasse cada um de teus adversários aos teus pés! Ninguém entenderia o teu amor pela vida, o teu amor por teu semelhante, por que de todos os dons do homem, o amor é o que mais o aproxima de todo o “BEM” do universo. Este amor não traz FELICIDADE, é a FELICIDADE que faz surgir dentro de nós este amor. Muitos se iludem ao acreditar que serão felizes ao acumularem ou a adquirirem bens materiais, riqueza, conforto ou poder nessa ânsia da busca da satisfação. Sem a alegria de viver que é essa FELICIDADE verdadeira, nada disso tem sentido algum... Um pote vazio! Que até pode ser de metal raro, incrustado de gemas preciosas e diademas finas, no entanto é inútil, totalmente descartável para o peregrino sedento e faminto, cansado de sua longa jornada pelo deserto que encontra sua salvação matando sua sede em um simples vaso de barro transbordando do mais fresco elixir da vida, doce como o mel, nutritivo como o leite e refrescante como a água proveniente do degelo da mais alta montanha. Não se deve também procurar a FELICIDADE em outra pessoa ou outras pessoas. Ninguém a não ser você mesmo poderá ter a responsabilidade da tua FELICIDADE, ela deverá nascer de dentro de você, deve ser concebida, cuidada, cultivada e nutrida internamente.Não existe um mapa secreto dizendo como se chega a essa FELICIDADE, o que se sabe é que ela existe e que todas as pessoas que a encontraram, precisaram arrancá-la de dentro de seus próprios corações!O caminho da FELICIDADE também passa por uma filosofia de aceite diante da vida, não um aceite passivo, mas uma aceitação onde você passa a agradecer tudo que é, tudo que tem, valorizando cada uma de tuas conquistas, por menor que elas possam parecer. Quem vence o mundo e louva a glória de ser feliz, não deseja que sua FELICIDADE seja alicerçada sobre a tristeza alheia. Quem é feliz compartilha sua FELICIDADE... Quem é feliz leva a sua luz aos que estão na escuridão... Quem é feliz reparte o teu pão e vinho abundante com quem esta com sua alma faminta. Se você não é feliz, saiba que isso é uma grande injustiça com um ser tão maravilhoso como você é! Não permita que a tristeza faça parte de teu ser, ela é pequena diante do brilho do teu sorriso, ela rasteja sobre o chão que você pisa e se alimenta de todo o teu pranto. Ela precisa existir pois não se pode haver o positivo sem o negativo e vice verso, dê à tristeza lágrimas de gratidão, lágrimas de vitória, lágrimas de realização... Pare e pense em tudo o que você é, em tudo que você se transformou, em tudo que você já passou na vida... Não sonhe sozinho e não deixe o egoísmo enraizar no teu espírito. Medite, respire, olhe para o céu e grite para o universo que você só quer encontrar o teu caminho e que você precisa de paz para vencer a guerra. Peça humildade e forças. Você verá que “não se sabe de onde e nem por que” virá um raio de luz no teu ser e você sentirá que embora o teu desabafo tenha sido remetido ao infinito, toda essa luz brotará inexplicavelmente de dentro de você mesmo! Uma energia boa, um combustível puro que impulsionará o teu veículo “corpo” por esta “via vita”, por este mar imenso que você vai atravessar seja na tempestade, seja na calmaria. Isso te dará orgulho de fazer parte do todo. Se existe um caminho para a FELICIDADE, ele está dentro de você e muita gente está torcendo para que você o encontre. O que você está esperando? (Risos, muitos e sinceros risos)... Vai ser feliz! Marcelo Reis, inverno de 2005














































Gratidão, o sol que brilha na alma

Olá queridas e queridos companheiros de jornada neste cruzeiro pela imensidão do universo em nossa nave azul Terra.
Eu sinto a necessidade de dizer-lhes algo antes que a efemeridade de meus dias impeça...
Eu quero falar sobre a gratidão. Essa esquecida gratidão... Preocupa-me o fato de grande parte das pessoas não cultivarem este sentimento.
A gratidão é um sentimento tão necessário ao homem quanto o amor, é ela que dá lastro à tão almejada satisfação. Todos querem obter satisfação, mas como conquistá-la sem gratidão? Como podemos sentir-nos completos, realizados sem sermos gratos?
Esse vazio que assola a humanidade com essa sedenta obsessão por poder vem da falta de gratidão. Quem é grato sempre está feliz com sua parte. Não cobiça a riqueza material alheia, conquista a própria fortuna. Quem é grato sabe dar valor ao que tem. Ele olha para o dia cinza e chuvoso e agradece. Ele se olha no espelho, vê que não é tão belo nem tão esbelto o quanto queria ser, mas mesmo assim agradece. Ele olha para seu prato e vê que falta algo mais apetitoso, mesmo assim ele agradece cada porção que leva à boca.
Quem é grato tem uma magia especial incandescendo em torno de si. Uma energia contagiante, um encanto por ser tão simples e precisar de tão pouco para estar bem com a vida e as pessoas do mundo. Quem é grato leva a esperança como estandarte na batalha diária pela sobrevivência.
Engana-se quem acredita que por conta da humildade de um “grato” exista submissão, covardia ou fraqueza. O grato é forte, é perseverante, é lutador aguerrido, tem fé em abundância em seu espírito e vence as barreiras que o destino impõe. Quem é grato não carrega o fardo pesado dos ressentimentos. Não passa a maior parte de seu tempo reclamando da vida. Não deixa sua alma vulnerável para a degenerativa depressão. Quem é grato se arrepende com menor freqüência. Na verdade, quem tem a gratidão pintada tal a afresco barroco em ouro no peito, sofre muito menos com as mazelas da traquina Vida. Sofrer é falta de esperança, quando falta esperança e o espírito está perdido, é sinal de que a gratidão deixou de agir em seu caminho.
Sei que muitas pessoas tem visões distintas do que é “DEUS”, mas se cada um de nós pudéssemos “agradecer” a essa força criadora nossa existência daríamos a nós mesmos um sentido novo ao nosso destino. Acenderíamos desta condição primitiva espiritual e esqueceríamos as fúteis diferenças que tanto causam desequilíbrio em nosso mundo. Nos veríamos como “iguais” é o que somos, só não temos a humildade necessária para admitir isso! Não somos gratos pela diversidade, não somos capazes de enxergar a riqueza que nossa própria espécie traz adquirida em sua peregrinação por milhares de anos. Não meus amigos e amigas, não somos gratos a nossos antepassados. Acreditem, somos únicos e muito importantes no ciclo da vida, cada um deixa sua contribuição, por menor que ela possa parecer.
Dar “graças” aos céus significa que você está em sintonia com o universo, que você de certa forma aceita os limites do que é possível e o que não pode ser realizado, este “aceitar” é consciência, é saber. O saber é um bem intransferível, uma preciosidade da alma. A verdade se apresenta a nós com muitas faces e a perfeição é apenas uma referência do inatingível.
Eu desejo a você que comece a praticar a gratidão para que tenhas uma vida mais satisfeita e plena.
Antes que me esqueça... Obrigado por ter me dado um pouco da tua atenção!
Um bom dia pra você!

Marcelo Reis, primavera de 2005.
Faça o meu dia feliz.

Dê-me uma boa noticia. Diga que me perdoa por todo o mau que causei, por tudo que minhas palavras ofenderam, por tudo que minhas ações prejudicaram, por tudo que meu coração não enxergou e por tudo que meu olhar injustamente julgou.
Traga-me esperança neste novo dia. Mesmo que amanheça cinza, mesmo que amanheça frio, mesmo que amanheça sem o perfume e a alegria das cores do jardim. Mesmo assim, traga-me esperança para que ela possa vencer o desanimo, o cansaço e a preguiça. Para que ela possa adoçar o travo amargo da língua e transformar todo o ranço em frescor de menta.
Por caridade lhe rogo. Faça o meu dia especialmente alegre...
Mostre-me que o meu irmão me ama como eu o amo para que o meu amor não morra em solo estéril. Mostre-me que o valor da minha crença não desmereça a crença de ninguém. Mostre-me que os homens acumulam riqueza eterna através de suas boas ações. Mostre-me um abraço entre povos inimigos e que a tolerância prevalece em uma coexistência onde as discussões sejam construtivas. Mostre-me que finalmente conseguimos compreender o significado da vida e que nos importamos com as vidas. Mostre-me neste dia que não mais ceifamos a natureza, que não mais ferimos os rios com veneno e que nosso ar é leve e puro. Mostre-me que não estamos mais assassinando o futuro de nossos descendentes com nossa ganância por riqueza e poder.
Faça o meu dia feliz eu lhe suplico! Quero que a criança não morra mais por falta de alimento. Quero que a loucura do adulto não dilacere estupidamente a inocência infantil. Quero que acabe esse mal hediondo no espírito do homem que violenta o corpo da criança por um prazer maldito. Hoje eu quero ouvir e ver crianças felizes, vestidas, alimentadas. Quero ver crianças sorrindo em escolas, correndo e brincando nos parques, sendo crianças apenas, sendo o que mais perto podemos chegar de Deus. Hoje por favor, não me mostre nenhum pai desesperado com seu filho a beira da morte nos braços implorando ajuda, correndo contra o tempo, banhado de sangue inocente. Não me mostre a mãe com sua negra mama seca agonizar de dor com seu filho no colo como uma caricatura dantesca da criatura humana, um monte de pele e ossos resistindo à desgraça de sua própria existência. Mostre-me que o orçamento das armas agora será usado para vencer a guerra da vergonha da fome no planeta. Mostre-me que os líderes mundiais se reunirão para estabelecer planos de combate às desigualdades e que o comércio entre as nações respeitará o desenvolvimento humano e não o corporativo. Mostre que os políticos não são mais corruptos e que se preocupam com a comunidade que os elegeram. Mostre que as batalhas serão travadas nas quadras, nos campos, nos ginásios e estádios esportivos e não mais nas ruas e periferias das grandes cidades. Mostre que a estupidez das bombas não impeça mais a liberdade de sonhar das pessoas e que os tanques de guerra e suas armas letais sejam banidos, que os capacetes dos soldados sejam utilizados para servirem de vasos para plantas curativas. Pela glória divina, mostre-me democracia sem incoerência. Mostre-me autoridade estatal com justiça. Mostre-me desenvolvimento baseado em sustentabilidade e comprometimento social. Mostre-me um governo escolhido pelo povo, que trabalhe pelo povo e para o povo. Mostre-me igualdade de oportunidade. Mostre-me justiça sem parcialidade. Mostre-me respeito pelo idoso, carinho pela criança e investimento para o jovem. Mostre-me que eu posso me orgulhar de ter vindo ao mundo mesmo sendo pobre, negro e analfabeto. Mostre-me que a coragem de oferecer a outra face é maior e mais digna que apunhalar pelas costas. Mostre-me que sou inocente até que se prove o contrário. Mostre-me que os direitos do homem não sejam confundidos com proteção aos marginais. Mostre-me que a falência das instituições é um grande mau entendido das pesquisas sociais e a família e tudo que ela representa continua existindo. Mostre-me que as armas de fogo não estão nas mãos das crianças nas escolas e nem nos campos urbanos de batalha. Mostre-me que as drogas não destroem mais as pessoas por que a conscientização da população chegou a tal ponto que até a AIDS foi erradicada. Mostre-me que os desastres naturais como enchentes, tempestades tropicais, furacões, tornados, tsunamis e terremotos não trazem mais tanta desgraça ao povo da terra pois já é possível prevê-los com alta tecnologia e ainda que o cuidado com preservação da natureza tenha chegado a um nível onde a recuperação da biodiversidade seja uma realidade a ser comemorada.
Faça o meu dia feliz Senhores da guerra. Aposentem seus instrumentos de carnificina, suas máquinas de extermínio. Abandonem a ilusão da soberania étnica, religiosa e sócio econômica. Soltem ao chão as espadas da perfídia e estendam as mãos soldados da paz para a verdade que libertará seus corações.
Hoje eu quero saber que projetos milionários de exploração do espaço foram revertidos para a educação de adultos, idosos e crianças pelo planeta. Que os bilhões que seriam investidos em uma sonda para se chocar com um corpo inerte, renda a sobrevivência de nossa própria espécie e que as pesquisas científicas sejam priorizadas na busca de um mundo melhor para todos e não uma minoria insana sedenta por lucros injustos extorquidos as custas do abandono, do descaso e da dor das populações dos países pobres.
Faça o meu dia ter sentido. Deixe-me sair de minha casa para trabalhar acreditando que meu trabalho é importante. Que de alguma forma minha colaboração faz a vida de alguém melhor. Que através de meu suor um semelhante meu possa sorrir, possa sonhar, possa saciar sua fome e sede, possa enriquecer sua alma, possa abrigar-se, possa confortar-se, possa divertir-se, enfim, possa viver.

Marcelo Reis, verão de 2005.






























Por quê?

Em uma dessas noites frias onde o céu parece ser uma incógnita, eu, depois do jantar, saí da porta da cozinha da minha pequena casa, olhei para o alto e mentalizei uma pergunta ao infinito, tentando buscar Deus... Perguntei em voz baixa e apreensiva:
_Por quê?
Na verdade foram “por quês”. E antes que o céu se abrisse ou que houvesse trovões e relâmpagos, entrei já com a resposta em meu coração que ardia como brasa...
Não sei como algo dentro de mim mudara grandiosamente?... Afinal Deus em toda sua bendita bondade resolvera estender sua mão e dissipar minhas dúvidas...
_Por que se afastou de mim Pai?
_Por que tu filho deste-me as costas.
_Por que essa tristeza me cerca meu Deus?
_Por que és humano e sentes dor.
_Por que a esperança parece ter partido da minha vida?
_Por que tu não a alimentaste com a fé e com a boa vontade.
_Por que a sombra toma meu coração Senhor?
_Por que te esqueces que habito em ti com luz suficiente para que saibas o caminho a trilhar.
_Por que nada de extraordinário acontece em minha vida?
_Filho... Para que algo extraordinário aconteça, é preciso que você construa o “extraordinário”.
_Senhor... Por que não operas um milagre em minha vida?
_Por que o maior milagre que existe tu já recebeste. Eis tua vida! O presente que a ti oferto com liberdade.
_Então por que meu Pai, a tristeza sonda minha alma como lobo faminto?
_Amado filho... Essa tristeza não existe mais. Em teu coração agora a esperança faz morada eterna, pois te despertas do sono dos covardes e encontraste coragem para ouvir todas as respostas que tu já conhecias... Conquistas-te a felicidade que sempre pertenceu a ti. A partir de agora, estas liberto das tuas aflições.
Resolvi correr para meu computador e registrar esse momento. Eram 03:04 da manhã quando terminei de escrever e pensei que seria bom compartilhar essa experiência... Quantas não são as vezes que olhamos para o céu e indagamos os nossos “por quês” e quantas vezes temos medo de ouvir as repostas.
Deus age de formas misteriosas em nossas vidas e nunca, nunca mesmo, nos desampara.
Que o amor de Deus seja com todos vós e que sua luz permaneça em nossos corações para todo o sempre. Amém.

Marcelo Reis, inverno de 2007.













A carta Saudade


_Mamãe... Chorando de novo? Perguntava inconformada Fernanda, filha caçula de Dona Ester, uma mulher machucada pela vida. Ao longo de seus setenta e oito anos, muita coisa já havia vivido. Criara os filhos, fora ótima esposa e sempre dedicada ao bem estar da família. Com os olhos emaranhados de lágrimas, Dona Ester responde a sua filha com a voz ainda engasgada pela emoção:
_Filha, não há maior dor que a saudade... Nunca deixe de dizer o quanto ama alguém, pois o arrependimento sempre vem tarde demais...
_A Senhora está falando sobre essa carta que a tia Célia enviou antes de morrer não é mãe?
_Sim minha filha... Nós éramos muito unidas, mas por banalidades acabamos rompendo...
_Deixe-me ler essa carta, sempre quis conhecer o conteúdo dela e por que a Senhora sofre tanto ao lê-la. Fernanda suavemente retira a casta antiga das tremulas mãos de sua mãe e começa passear seu olhar sobre o manuscrito de letra rebuscada, Dona Ester observa a filha em silencio...












São Paulo, 27 de outubro de 1923.




Querida Irmã,

Meu olhar pousou sobre a tua imagem querida irmã na luz, meu pensamento viajou por tempos antigos e no meu infinito revivi o teu sorriso, as tuas palavras, o teu carinho. Meu coração entrou em jubilo ao recordar da tua presença que alegrava o meu caminho. Tantas batalhas foram vencidas ao teu lado, tantos prantos e esperanças foram compartilhadas, tantos sonhos realizados juntos. Amanheceres e crepúsculos testemunharam nossas jornadas. Hoje vivo a ausência do teu afeto, sinto a insuficiência da plenitude que era conviver ao lado do teu espírito. Meus olhos que sorriam por tê-la ao meu lado agora se afogam em lágrimas pesadas. Eu realmente sinto falta do teu abraço. Sinto falta da verdade. Sinto falta do companheirismo e da alegria que nos cercava. Alegria em saber que nada poderia separar nossas veredas...
Continuo vendo tua imagem, parece que um filme passa por minha mente, muitas recordações invadem meu coração, em todas elas te vejo, em todas elas contém o teu brilho e a tua alegria. Como separar você de minha história? Como fingir que nada aconteceu? Como continuar minha peregrinação por este plano sem a tua coragem inspiradora? Dizei-me. Dizei-me mais... Meu sofrimento é justo? Acreditas que em meu coração haveria lugar para qualquer que seja algum sentimento indigno de ti? Todavia te digo. Minha alma acometida de injusta tristeza despiu-se de todo e qualquer orgulho, de todo e qualquer rancor e humildemente te convida a refletir sobre a palavra “perdão”. Perdão por tudo que fiz e não gostastes. Perdão por aquilo que desejastes que eu fizesse e não fiz. Perdão por ter magoado, por ter ofendido, por ter decepcionado. Mas acredite quando em verdade lhe digo. Nunca te desejei nada menos que o teu bem. Em todas as minhas preces você é lembrada. Em meus pensamentos você é querida. A tua felicidade é um pouco minha também, pois me sinto tão parte de ti quanto meus braços e pernas fazem parte de meu corpo.
Não me humilho diante de ti, pois sei que não te agradaria este gesto. Não é uma questão de poder, não travamos uma peleja insana. Não jogamos deslealdade. Sabes que não somos assim. O que nos separa é a incompreensão mútua, e a falta de coragem de se abrir o diálogo. É a coragem de admitir erros novos e antigos e reconstruir o que se perdeu. Sabes que para um paciente que entra em uma sala de cirurgia retornar sadio, o cirurgião corta a carne, os auxiliares estancam o sangue e habilmente o cirurgião retira o mau que aflige o paciente. Assim também é a vida minha querida irmã. Precisamos de uma cirurgia. Necessitamos de uma conversa. Poderá ser dolorido como o início de uma cirurgia, mas poderemos terminá-la como pacientes sãos, restabelecidos. Mesmo que não seja uma recuperação imediata, mas o mal será extirpado. Precisamos de uma conversa franca, leal, verdadeira e sem rancor. Precisamos desarmar nossos corações. Sinto que também sofres como eu. Sinto em meu coração que você também anseia pela retomada de nosso caminho.
Eu tenho um sonho... Quando tudo isso acabar, eu quero rir junto de você.

Deus esteja contigo, hoje e sempre. Que a luz do divino Espírito Santo ilumine cada passo teu e te guie pelo caminho da verdade e que nosso Senhor Jesus Cristo faça chover bênçãos de amor, paz e saúde na plantação da tua vida.

Com todo carinho do mundo,

Tua irmã,

Célia Maria


Ao terminar de ler a carta, Fernanda já emocionada deixa o pranto correr-lhe a face, ela abraça com carinho a mãe, beija-lhe o rosto enrrugado e diz próximo ao ouvido de Dona Ester:
_Mamãe, eu te amo...


Marcelo Reis, primavera 2009.

3 comentários:

  1. Na minha opinião,escrever o que pensamos nos leva a aprender cada vez mais e acredito que seu conhecimento é relevante a tudo que ja tenha lido de tão lindo!...

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  2. Estou sem palavras... Afinal, escrever é um dom uma arte... Vais além do horizonte...És sol, és enciclopédia de palavras que tocam no fundo da alma...Sucesso...Bjuxx...Entre no meu blog também ritterdeise.blogspot.com

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  3. Emocionante ler palavras tão lindas e sinceras, você está de parabéns é uma pessoa iluminada mesmoooooooo
    Continue com essa sensibilidade
    Te adoro
    bjs

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