sexta-feira, 29 de junho de 2012

Que me julguem os normais...



Enquanto você dorme, minha insônia me obriga a pensar, pensar e pensar...
Na madrugada você sonha, descansa e eu percorro as ruas frias e vazias...
Perambulo vagabundo, perdido, baldio entregue ao esquecimento...
Esse perturbador penar, esse ímpar pesar se disolve como a fumaça no ar...

Enquanto você desperta com os cantares dos pássaros, eu desabo, desmaio...
Confundido com o chão sou pisoteado, capacho de carne ensangüentado...
Varrido como lixo não reciclável, jogado indigente em cova rasa...
Em sua farta mesa o almoço é servido, caças, guarnições e vinho...

Enquanto para mim, resta-me para os vermes servir de abrigo...
Sem epitáfio, sem história, sem lágrimas de parentes, sem vestes descentes...
Sem dignidade, sem esperança, sem madre pátria, sem letra, sem estrada...
Sem dentes, sem saúde, sem nome, sem amor, folha levada ao vento, sem valor...

Enquanto suas vidas normais seguem cercadas de conforto e conquista,
Mais um de mim surge precoce em uma esquina envolto ao cordão do umbigo...
Contando com a sorte para alimentar-lhe a alma, esperando da bondade alheia resgate.
Todos esquecem que nada para sempre dura e todos iremos ter o mesmo fim.

Marcelo Reis, inverno 2012.

4 comentários:

  1. Valeu Dan, vindo de você é bem mais que um simples elogio, abraço e sucesso fióte!

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  2. Caro Marcelo Reis,
    muito obrigada por me indicares onde encontrar a expressão da tua alma, do teu olhar, do teu sentir.
    Adorei o que li.
    Fraterno abraço,
    Maria

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    1. Querida Maria, suas palavras soaram como canção em meu coração, obrigado por sua generosidade, espero poder ser sempre digno de sua atenção e carinho. Beijo terno.

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